Somos tão jovens?
"Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou"
Assim inicia a música de Renato Russo "Tempo perdido". Não quero iniciar uma briga aqui, no que tange à interpretação da bela canção. À primeira vista, ele fala sobre o tempo e é sobre ele que desejo me ater.
Se você pergunta a um paciente terminal, qual seria seu último desejo antes de partir, certamente seu desejo, além da cura, obviamente, é um pouquinho mais de tempo. Tempo para amar, perdoar, pedir perdão, realizar. O tempo é um presente que perdemos a cada dia.
Não vou tecer aqui um sermão sobre o que você deve ou não deve fazer com seu tempo. Já há livros de auto-ajuda demais para isso. Minha linha de pensamento aqui é o que você deseja fazer com o tempo que ainda nos resta. Não posso trazer uma receita de como "organizar" o tempo, como repartir milimetricamente o seu dia afim de saber utilizar bem cada momento. Isso é besteira!
Rotina, por mais depreciação que as pessoas dão a essa palavra, é uma benção. Não é bom acordar, ter seu trabalho, seus afazeres, sua família, mesmo que isso se repita várias vezes. Seria melhor se não tivesse o que fazer? Ou se estivesse em um lugar tão instável que não se poderia ter uma rotina? Como em regiões afetadas por conflitos? Não raramente, reclamamos da rotina, mas o problema não é a rotina, o problema é que o ser humano nunca está satisfeito com o que tem!
Voltando a falar do tempo que não volta, talvez melhor que saber organizar o tempo, é saber respeitar nosso tempo! Como? Não, apenas, traçar objetivos, mas saber que seus objetivos são só objetivos e não se decepcionar em não alcançá-los, mas aproveitar a caminhada que te leva até eles. Não estou defendendo o "desprezar dos sonhos e objetivos", mas as pessoas pensam tanto nos objetivos que, quando alcançam, nem mesmo sabem o que fazer com eles.
Ouça: Há um amigo que adora carros. Em especial, ele ama carros esportivos. Ele passou anos "planejando" comprar o desejado carro. Empenhou-se, deixou de fazer viagens com a família, economizou, trabalhou, enfim, conseguiu. Foi à agência e comprou o carro. Três meses depois vendeu o carro, disse que o modelo não era tudo que ele esperava. Não foi erro de compra, de cálculo, de averiguação, foi apenas buscar um objetivo por buscar. Um fim em si mesmo.
Há tantas pessoas correndo atrás de seus objetivos, sem nem mesmo saberem o que farão depois de alcançá-los. A música do Renato ainda diz que "somos tão jovens", dá uma ideia que "temos a vida toda pela frente", pelo menos para mim, é claro, mas a verdade é que a vida é um sopro, um grão de areia que escorre pelas nossas mãos a cada segundo que passa, estamos mesmo dispostos a desperdiçar algo tão valioso com objetivos inalcançáveis ou alcançáveis?
Objetivos são importantes, eles nos norteiam, mas eles não devem ser a finalidade última de nossas vidas. Viver, deve ser a finalidade última de nossas vidas.
Josué Melo